Antônio, profissão barbeiro, atual proprietário de um salão com mais de 80 anos.

Sua possível clientela se assusta com o buraco no antigo teto manchado que ainda preserva parte dos seus desenhos em gesso, atraindo mais curiosos do que fregueses.

A história do espaço está envolvida na trama do desenvolvimento urbano do Porto, um exemplo do descaso de proprietários que não vêem potencial de lucro nas antigas construções. O prédio com seus 3 pisos tem os dois superiores inabitáveis.

Antônio é inquilino e do local já foram removidos outros dois, um alfaiate e um morador, resistindo apenas ele por meio de brigas judiciais. Uma luta que envolve desde sabotagem (remoção de telhas para infiltração d’água, demolição dos fundos e dos andares vazios) como corrupção do poder público no tratamento aos casos de conflito entre construções históricas e interesses imobiliários (procurar por denúncias do ex-vereador Paulo Morais).

O salão, que não lhe oferece a renda da qual hoje sobrevive, é um local mais de entretenimento do que propriamente de trabalho. Durante a manhã em que estive fotografando o local, sob o som de um pequeno rádio portátil, Antônio lia atentamente o jornal intercalando entre conversas com conhecidos que passavam à frente e as histórias que me contava.

As cadeiras, os produtos nos expositores, navalhas, toalhas, quadros na parede e o próprio personagem do barbeiro, assemelham-se ao ambiente de um museu, uma resistência da tradição perante as modificações postas pelo suposto “desenvolvimento”, um livro aberto e exposto no meio da cidade, lentamente se deteriorando e com dias contados para desaparecer. Antônio conta que fechará definitivamente as portas ainda esse ano.

Porto, 2010.